A história do ‘caça tampão’ se repete

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Em 21 de agosto de 2008, data de criação deste site, publicamos nosso primeiro post mostrando os Sukhoi Su-30 venezuelanos sobrevoando a floresta amazônica. De lá pra cá, lemos e ouvimos centenas de notícias  (a maioria pode ser lida no nosso arquivo) sobre a urgente compra de caças no Brasil, com as seguidas desculpas e adiamentos oficiais.

Mais uma vez a decisão foi adiada para o fim de 2012, enquanto os aviões da Aviação de Caça brasileira utilizam suas últimas horas de vida útil para manter o mínimo de treinamento de seus pilotos.

A história se repete no Brasil. Nossa Aviação de Caça sempre foi esquecida pelos sucessivos governos, mesmo os militares, com a sempre alegada falta de recursos financeiros para adquirir aeronaves em número suficiente para substituir as aeronaves que iam sendo aposentadas.

No final dos anos 1960, quando os nossos primeiros jatos de combate Gloster Meteor adquiridos em 1953 precisavam de substituição urgente,  a solução “tampão” foi adquirir velhos jatos AT-33 da USAF. Eram treinadores T-33 armados, que de tão cansados foram desativados já em 1975.

A solução criativa e de baixo custo encontrada para equipar a maior parte dos esquadrões de caça da FAB da época foi dotá-los de um jato de treinamento e ataque, o EMB-326 Xavante, variante do Aermacchi MB-326. Não era um caça verdadeiro, mas era movido a jato e quebrava o galho.

A compra dos Mirage III e dos F-5E salvou a caça no início dos anos 70, mas os aviões tornaram-se obsoletos muito rapidamente. Já na década de 1980, enquanto forças aéreas do mundo inteiro adotavam novas tecnologias em seus caças como os radares multimodo, mísseis de longo alcance, cockpit HOTAS, HUD, RWR etc., a FAB continuava com os sistema de bordo originais e usando canhões e foguetes, tecnologia não muito diferente da empregada na Segunda Guerra Mundial.

O desgaste e o atrito dos Mirage III e F-5 obrigou a compra de mais unidades usadas dos seus respectivos países fabricantes. A modernização realizada nos Mirage não contemplou a modernização da aviônica.

O sopro de modernidade na Aviação de Caça foi dado na década de 80 pelo desenvolvimento do AMX, aeronave de ataque desenvolvida em conjunto com a Itália. O AMX introduziu finalmente na FAB o cockpit HOTAS, HUD, RWR e modernas doutrinas operacionais e de gerenciamento.

Mas como alegria de militar brasileiro dura pouco, com a abertura política no País, o AMX sofreu repetidos cortes de verbas que inviabilizaram a sua plena operacionalidade. Somente com a modernização decidida em 2011, 20 anos depois da entrada em serviço do avião, o AMX deverá adquirir plena operacionalidade.

A tão esperada modernização dos sistemas de bordo dos F-5 que deveria ter sido realizada no início dos anos 90, só começou a ser feita em 2003!

Os velhos Mirage III já foram desativados, juntamente com os Xavantes. No lugar destes últimos, a FAB colocou em operação o Super Tucano, turboélice de treinamento e ataque, que, em que pesem suas qualidades, tem as limitações de um avião a hélice. Essas limitações, segundo alguns, estão atrapalhando a formação dos novos pilotos de caça, pela falta de um jato como o Xavante para fazer a transição para os aviões de primeira linha.

No lugar dos Mirage III, após o cancelamento do programa F-X, foram adquiridos 12 jatos Mirage 2000 C/B usados, que tem seus dias contados na FAB. A modernização dos F-5 prossegue, em mais onze F-5 adquiridos usados da Jordânia.

Nossos heróicos F-5 talvez não possam ter sua vida esticada como se imaginava, já que os aviões têm apresentado vários problemas de fadiga, inclusive com a perda da carlinga (canopy) em voo.

Nossa Aviação de Caça está na UTI, dando seus últimos suspiros. O prazo de compra de novos aviões já passou, a janela de oportunidade está se fechando (ou já fechou?) com a crise econômica internacional atingindo o Brasil e a velha prática do “caça tampão”, inaugurada nos anos 1960, talvez tenha que ser repetida.

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