Já se acabava a manhã do domingo, 13 de maio, o segundo dia das exibições aéreas em comemoração dos 60 anos da “Esquadrilha da Fumaça” na Academia da Força Aérea (AFA) em Pirassununga, São Paulo. Na relativa solidão da cabeceira da pista, dois editores do Poder Aéreo, Nunão e Poggio, não tinham do que reclamar, apesar do céu ainda cinzento e do teto ainda relativamente baixo. Haviam acabado de fotografar boas passagens próximas de helicópteros da FAB e do Exército Brasileiro manobrando por ali em suas idas e vindas para se exibir ao público na parte central da pista, entretendo-o enquanto o teto não subia.

Também haviam acompanhado a primeira apresentação do dia do Super Hornet, que em diversos momentos ficou encoberto pelas nuvens mas que, ali sobre a cabeceira da pista, havia realizado algumas passagens e curvas a baixa altitude, em ótimos ângulos para fotografias. Aguardávamos mais uma atração, a decolagem da “Fumaça” (EDA – Esquadrão de Demonstração Aérea), antes de deixar a área da cabeceira e buscar outros ângulos para as próximas apresentações.

Mas um ponto surgiu ao longe no céu, no silêncio daquela posição longe do público, e um cadete que nos acompanhava avisou: “Tem um caça vindo ali”. A baixa altitude, a silhueta cresceu muito rapidamente e o familiar “delta” apresentou-se para nós, passando veloz naquele absoluto silêncio seguido, em instantes, do barulho infernal de seu motor em pós-combustão e do deslocamento de ar gerado pelo caça em alta velocidade subsônica. Era o Mirage 2000B da foto acima, mostrado já na sua segunda passagem. Veja abaixo (clique para ampliar), mais duas imagens do caça manobrando, à distância, e deixando rastros de condensação gerados pelas pontas de suas inconfundíveis asas em delta.

Mesmo após a impressionante exibição das manobras do Super Hornet, a passagem veloz do Mirage a baixa altitude sobre a pista teve o impacto de sempre junto ao público. Enquanto o “trovão” que ele gerou diminuía de volume, sendo seguido pelo som ainda bem alto de seu motor enquanto fazia a curva, podíamos ouvir ao fundo, mesmo tão longe do público, os altos gritos da multidão que ocupava a área reservada naquele domingo. O caça passaria novamente no eixo da pista, mantendo alto tanto o volume de seu motor quanto a resposta dos espectadores na AFA. Assim tem sido nos últimos anos, e assim ainda deverá ser enquanto os Mirage 2000 (F-2000 na FAB) voarem no Brasil e se apresentarem nos “portões abertos” das bases áeras da FAB.

Vale acrescentar que o caça fotografado é uma “ave rara” da FAB. Dos doze Mirage 2000 operados pelo 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea) na Base Aérea de Anápolis, apenas dois são da versão B, biposta. Ao menos este editor nunca havia visto uma num evento da AFA – de fato, a última vez que vi um Mirage biposto da FAB em Pirassunga, não se tratava de um modelo F-2000, e sim de um velho F-103D, a versão biposta do Mirage III empregado pelo 1º GDA até 2005. Na foto à direita (clique para ampliar), o biposto F-103D 4906 fotografado na AFA em 2004, um ano antes da desativação do modelo.

Uma pena que, após a passagem baixa, o F-2000B 4932 não pousou na Academia para ficar em exposição estática, como foi o caso do monoposto F-2000C  4948 no ano passado (aliás, a mesma aeronave que havia se apresentado em 2010, como relatado em matéria anterior). Teria sido um prato cheio para os fotógrafos e o público em geral as oportunidades de mais imagens de decolagens e de passagens baixas, sem falar na exposição estática de suas belas linhas.

Falando em exposição estática, assim se mostraram durante o sábado e a maior parte do domingo dois outros jatos de combate da FAB: o F-5EM 4820 e o A-1B 5651. Ambos também têm suas peculiaridades: o exemplar de F-5EM é nada menos que o “cabeça” de todos os modelos “Echo” recebidos pela FAB, iniciando a numeração do lote inicial entregue em 1975. Já o A-1B, por ser um modelo biposto, também pode ser considerado uma aparição rara em eventos de “portões abertos”, pois ao menos em Pirassununga os A-1 apresentados costumam ser monopostos.

Já no final da tarde de domingo, entre as últimas apresentações do Super Hornet norte-americano e do Hornet canadense, o F-5 e o A-1 decolaram praticamente juntos, deixando a AFA. O A-1 chegou a realizar uma bela ascenção rápida, em alto ângulo, na direção das nuvens. Abaixo, mais imagens dos dois jatos em exposição estática. Clique para ampliar.

 

Outra aeronave que opera na Aviação de Caça da FAB (embora apenas o F-5 e o F-2000 possam, numa definição mais estrita, serem considerados caças) e que deixou bem marcada a sua presença no evento foi o A-29 Super Tucano. Uma das duas aeronaves do tipo, quando em exposição estática, pode ser vista nas duas fotos abaixo, que mostram detalhes de seu canopi e da metralhadora .50 “orgânica” instalada na asa direita.

 

 

Destacou-se o voo do A-29B (biposto) 5953 na tarde de domingo, antes da apresentação do Super Hornet. Pela numeração e até pelo estado de sua pintura, pode-se perceber que se trata de um Super Tucano bem novo. As imagens abaixo mostram a movimentação da aeronave para a decolagem.

O voo de demonstração do A-29 durou vários minutos, mostrando para o público a capacidade de manobra da aeronave em baixas velocidades, com pequenos raios de curva, e com algumas passagens aparentemente bem próximas à velocidade máxima (superior a 500 km/h). A camuflagem do Super Tucano às vezes contrastava com o céu azul ou se misturava com o verde em passagens baixas ou com as nuvens cinzentas que ainda pontuavam o céu.

Em vários ângulos, como se pode ver nas imagens abaixo, o tamanho do canopi se ressaltava bastante e quebrava um pouco a harmonia das linhas herdadas do elegante T-27 Tucano – mas o  canopi em bolha não visa exatamente a elegância, e sim proporcionar uma boa visibilidade aos tripulantes desse turboélice de ataque leve.

 

E essa foi mais uma participação da Aviação de Caça da FAB num evento especial da AFA. Entre os que frequentam anualmente os “portões abertos” da Academia da Força Aérea, foi comum ouvir a opinião de que, em outros anos, os caças da FAB se apresentaram mais ao público, realizando mais passagens baixas e demonstrações.

Mas é fato que, nos 60 anos da “Fumaça”, a quantidade de apresentações agendadas (incluindo outros jatos de alto desempenho e sem falar nos anfitriões do EDA e outras equipes de demonstração, como os Halcones chilenos) aliadas às condições meteorológicas que muitas vezes limitaram as “janelas” de bom tempo disponíveis, podem ter contribuído para que esses caças se apresentassem menos do que o desejado. Ainda assim, não faltaram oportunidades para os olhos e para as câmeras de quem prestigiou o aniversário da “Esquadrilha da Fumaça”.

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