Fumaça 60 anos: meu nome é Hornet, Super Hornet
A foto acima foi tirada na última apresentação do Super Hornet nos 60 anos da Esquadrilha da Fumaça (EDA – Esquadrão de Demonstração Aérea), na tarde do último domingo. Ela abre esta matéria porque, na minha opinião, sintetiza diversas das impressões que se misturaram, na minha cabeça, ao longo das quatro exibições realizadas pela principal aeronave de combate hoje em uso na Marinha dos EUA. Todas de tirar o fôlego de quem gosta de aviões de alto desempenho e compareceu à Academia da Força Aérea (AFA) no último final de semana.
Na imagem (clique para ampliar), que propositadamente não recebeu tratamento algum para “melhorá-la”, vemos o Super Hornet no meio de uma curva apertada, com os pós-combustores acionados. À esquerda, vemos o efeito do ar quente distorcendo a visão do céu e de partes do caça, denunciando também o sentido de uma leve diagonal descendente em meio à curva, feita como uma “derrapagem”. Dos dois lados da cabine do piloto, sobre as raízes das asas, vemos os vapores de condensação dos vórtices gerados pelas extensões do bordo de ataque (lerx), superfícies que garantem maior sustentação em diversas situações do voo. Os enormes flapes estão acionados, ampliando ainda mais a capacidade de sustentação das asas (que visivelmente “engrossam” nesse ângulo, com seu acionamento), tudo para garantir uma curva em alta performance, quando rapidamente o sentido do voo é invertido, e a potência dos motores garante a rápida recuperação da velocidade.
Então, subitamente, o caça que víamos mostrando sua traseira invertia totalmente o sentido da manobra, apontando para o céu ou para o chão, e gerando outras belas nuvens de condensação, como na imagem abaixo.
Para quem estava lá assistindo, essa rapidez para mudar de curso, acelerar novamente, e apontar o nariz para outra parte do céu ficou muito clara, e contrasta com muitas críticas sobre peso, lentidão e preguiça nas manobras que se lê em inúmeras discussões da internet. O que se viu, na configuração quase “limpa” com quatro mísseis (armas inertes, deve-se frisar, porém com mesmo peso e dimensões dos reais) foi muita manobrabilidade em situações de combate aéreo, em velocidades subsônicas baixas ou altas.
Tanto na foto do alto da matéria quanto nos detalhes ampliados acima e abaixo, podemos ver também alguns dos chamados “defeitos” ou peculiaridades do Super Hornet (quase sempre bastante criticados por “torcedores” de outros caças que concorrem ao interminável programa F-X2 da FAB): um deles é o desalinhamento dos pilones com o eixo da aeronave, montados num ângulo que diverge desse eixo. Solução que ampliou a segurança no lançamento de bombas quando com três pilones sob cada asa, mas que gera maior arrasto, sem dúvida.
Pode-se ver que o míssil encaixado no pilone sob a asa esquerda (imagem acima) está praticamente alinhado com o ângulo de visada da câmera. Já o da asa direita (foto abaixo) está claramente desalinhado. A posição dos próprios pilones externos mostra o limite da parte fixa da asa. Daí para fora, ela é dobrável – afinal, é um caça naval, desenvolvido para ocupar o menor espaço possível em convoos. Esse é um fator que diminui o espaço disponível para o total de seis pilones sob as asas (dois a mais que o do antecessor Hornet), o que levou à solução mostrada acima, apesar da grande envergadura total. Por ser um caça embarcado, o trem de pouso e a estrutura também são mais robustos e tornam o avião mais pesado do que outro que não opere em porta-aviões. Em compensação, o Super Hornet decola e pousa em pistas bem curtas, e demonstrou essa capacidade de decolar “comendo” poucas centenas de metros da pista da AFA.
Prós e contras visíveis de uma aeronave que se candidata a ser o futuro caça da FAB, mas que não mudam um ponto muito claro para quem estava lá: definitivamente, as palavras lento, pouco manobrável e subpotenciado para combates “corpo a corpo” não combinam com uma apresentação de um Super Hornet nas mãos de um piloto com milhares de horas no currículo, como as que pudemos ver nos 60 anos da Fumaça.
Mas chega de falar do F-X2. É hora de ver outras fotos das apresentações do Super Hornet. A primeira exibição do sábado, sob chuva, já mostramos aqui em matéria anterior (veja lista de links ao final). Vamos à segunda daquele dia, já no meio da tarde, quando o tempo estava mais firme, apesar do céu cinzento e com áreas bem escuras. Ainda assim, algumas áreas do céu permitiam um pouco mais de contraste para as fotos do caça pintado de cinza.
A primeira imagem, acima, mostra uma cena característica do início das apresentações, com os vapores de condensação sendo formados sobre os “lerx” numa curva em ascensão. As exibições normalmente começavam com uma decolagem curta, em que o caça já apontava para o céu em alto ângulo (embora não tão elevado quanto o das apresentações do Hornet, que vimos na matéria anterior), imediatamente fazendo uma leve curva ascendente à esquerda para voltar o dorso da aeronave para o público da área central, enquanto recolhia o trem de pouso.
Mantendo o elevado ângulo de ataque e com os pós-combustores ligados, o caça fazia um rolamento à direita e continuava subindo, para então fazer uma curva apertadíssima para a esquerda (como na foto acima), seguida de um círculo completo ascendente, bem mais largo, no sentido da direita. Nesse momento, já a uma altitude que parecia suficiente para um bom mergulho, o caça rolava para apontar para o solo em voo invertido, rapidamente corrigido para o mergulho com o dorso para cima. Quando se imaginava que o piloto esticaria a descida para ganhar mais velocidade com o “piquê”, antes de recuperar e apontar novamente para o céu, fomos surpreendidos com um mergulho muito curto, cortado de maneira abrupta para uma nova subida.
Então o caça subia praticamente na vertical com a “barriga” voltada para o público, e logo fazia um rolamento em ascensão para novamente mergulhar em curva, numa manobra de combate semelhante a um “iô-iô” de alta (em que se “fecha” a curva sobre um inimigo que utilize apenas o plano horizontal).
Seguia-se mais uma curva em que o Super Hornet ganhava velocidade (com raio maior) à direita, ligeiramente descendente, e uma nova ascensão abrupta, na vertical, agora com o dorso voltado para o público. Vinha então o movimento que mais impressionou a este autor: o caça repentinamente nivelava numa fração de segundo, numa manobra tão rápida que, imagino, o cérebro deve “bater no teto do crânio” (para não falar dos movimentos de outros órgãos internos…).
Após diversas outras curvas de raio curto, inversões no sentido do voo, meio-looping com rolamentos rápidos, além de passagens em elevada velocidade subsônica seguidas de mudança abrupta de curso e de atitude (como na foto abaixo à esquerda), era feita uma passagem em velocidade extremamente lenta, com alto ângulo de ataque, seguindo o eixo da pista (foto abaixo, à direita). Tudo bem barulhento, evidentemente, para delírio do público (e susto para alguns).
As imagens abaixo já são das apresentações de domingo. A da parte da manhã ainda se ressentiu do teto baixo, o que encobriu algumas manobras. Chegamos a gravar um pedaço dela em vídeo, mas como tornou-se muito difícil seguir o caça quando entrava numa nuvem, nos dedicamos mais a fotografar as manobras realizadas mais perto do solo.
Naquela manhã de domingo, havíamos nos deslocado novamente para a cabeceira da pista, assim foi possível captar algumas imagens mais próximas do pouso, vistas abaixo. Presenciando a aterrissagem de perto, parecia muito claro que ela poderia ser ainda mais curta, pois aparentemente o piloto mantinha o nariz da aeronave para cima (retardando o toque do trem de pouso dianteiro) para exibir por mais tempo a corrida pela pista ao público presente. Mas, após todas as rodas tocarem o solo, as superfícies verticais da cauda dupla e os profundores eram usados de forma mais pronunciada para “frear” mais rapidamente a aeronave.
E, finalmente, na tarde de domingo o sol se abriu e grandes brechas de céu azul apareceram para mudar a rotina de fotografar um caça cinzento sobre um céu cinzento, o que ajudou até a fazer melhor o foco e poder aproximar um pouco mais o enquadramento. Mudou também ligeiramente a rotina da apresentação do Super Hornet: ela foi um pouco mais curta, provavelmente para permitir que outras aeronaves e pilotos (sem falar nos anfitriões) pudessem se exibir aproveitando aquela brecha de tempo mais limpo e sol, que serviu até para queimar a pele dos mais desavisados.
Assim, encerramos esta narrativa com algumas das imagens do Super Hornet com o céu mesclando azul e branco como fundo naquela tarde e com uma lembrança de dois dias que serão difíceis de apagar da memória. E foi justamente para não deixar apagar que fizemos esta matéria para os leitores do Poder Aéreo, tanto os que foram a Pirassununga quanto os que não puderam comparecer a esse evento único. Não perca as próximas!
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