F-X2: Rafale no Brasil é frustração de Sarkozy, diz outro jornal francês
Contrastando com o otimismo de notícia de 10 de abril do jornal francês Les Echos, que serviu de base para reportagem da RFI (veja matéria acima desta), outro jornal do mesmo país, o La Tribune, publicou artigo com o nome “Rafale: as esperanças frustradas de Nicolas Sarkozy”, no último dia 12.
O ponto principal do texto é a expectativa frustrada do atual presidente francês e candidato à reeleição, Nicolas Sarkozy, de conseguir efetivamente assinar um contrato de venda do Rafale durante seu mandato, especialmente para os Emirados Árabes Unidos (EAU). Segundo o jornal, “há poucos dias Sarkozy ainda esperava voar para Abu Dhabi e assinar um contrato de venda de 60 dos caças da Dassault. Mas todos os esforços para conseguir essa venda, nos cinco anos desse seu primeiro mandato, foram em vão”.
O jornal ressalta como positivo, porém, o fato de que o caça foi selecionado pela Índia, ficando na “pole position”. Mas, por enquanto, nada está assinado e é difícil colocar o crédito desse sucesso à Presidência Francesa, pois Sarkozy teria intensificado erros durante visitas à Índia. O próximo presidente francês, seja Sarkozy ou outro, deverá assinar o contrato. “Quem sabe assine também contratos no Qatar ou na Malásia, se for tão obsecado quando o presidente dos últimos cinco anos”, diz o jornal.
Sobre essa obsessão, o La Tribune afirma que o desafio foi assumido por Sarkozy poucos meses após sua posse, e que ela foi desencadeada por um fracasso embaraçoso do Rafale no Marrocos. O país do Norte da África preferiu, em 2007, comprar o F-16 norte-americano, numa derrota francesa considerada impensável e uma verdadeira “afronta ao novo presidente”. É por isso, segundo o jornal, que Sarkozy lutou até o último momento, em vão, para convencer os EAU a assinar um contrato neste primeiro trimestre de 2012. Visitas chegaram a ser agendadas para fevereiro e março, e Sarkozy estava pronto para subir num avião e assinar logo esse contrato com os EAU, país do Golfo Pérsico com o qual a França tem um acordo de defesa desde 1995. Se houver um acordo, ele “provavelmente vai ser assinado pelo próximo presidente – algo cruel para Nicolas Sarkozy, se ele não for reeleito em maio”, diz a reportagem do La Tribune.
Para vender o Rafale a todo custo, Sarkozy teria tentado de tudo, o que incluiu oferecer o caça até onde há pouca chance de sucesso, como no Kuwait e em Omã, países sob forte influência dos EUA. O presidente francês chegou mesmo a tomar iniciativas perigosas para vender o Rafale ao coronel Kaddafi, quando o líder líbio visitou Paris, em 2007. A ironia, segundo o jornal, é que “o líder líbio pelo menos pôde conhecer, antes de sua morte, toda a eficiência operacional do Rafale na campanha da Líbia.”
Já no caso da Suíça, o jornal credita a Sarkozy boa parte da responsabilidade pelo fracasso da venda do caça. Na cúpula do G20 em Cannes, o presidente denunciou “deficiências” nos esforços da Suíça para evitar ser considerada um paraíso fiscal, o que não agradou Berna. Oficialmente, a justificativa da escolha do Gripen sueco em detrimento do Rafale foi de razões orçamentárias: uma diferença de 1 bilhão de euros, para mais, no caso da oferta francesa.
O La Tribune diz que o Brasil também é um caso de esperanças frustradas, ou outro fracasso de Sarkozy. O presidente Lul, do Brasil, havia prometido selecionar o Rafale pouco antes de deixar o cargo em dezembro de 2010. Sarkozy havia investido pessoalmente no acordo e deu muito de seu tempo para conseguir a encomenda de 36 aeronaves. “No final, Lula não manteve sua palavra. Por quê? Mistério. Mas pairaram rumores de propinas, com a presença de vários intermediários franceses, que aparecem hoje no mundo dos negócios em torno do presidente da República,” afirma a reportagem do jornal francês.
O jornal ainda afirma que, numa noite após um jantar oferecido por Lula (nota do editor: o jornal provavelmente se refere aos antecedentes do anúncio de início de negociações para a aquisição do Rafale, em 7 de setembro de 2009) Sarkozy teria sentido que poderia balançar a decisão brasileira “e voltar para Paris com a promessa de venda”. Assim, ele instou a equipe da Dassault e o seu chefe executivo Charles Edelstenne a refazer sua mais recente proposta, de acordo com as exigências dos brasileiros: “Bata enquanto o ferro está quente”, exigiu Sarkozy, segundo o jornal. As equipes trabalharam por toda a madrugada e o dinamismo do presidente francês foi destacado por um membro da empresa fabricante do Rafale, que creditou a ele o sucesso daquela ocasião. Mas, depois, o resultado foi outro fracasso, e só o próximo presidente é que terá a chance de assinar o contrato brasileiro.
FONTE: La Tribune (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)
FOTOS: Presidência Francesa (Elysée), Força Aérea Francesa (Armée de l’air) e Agência Brasil
NOTA DO EDITOR: traduzimos esta matéria não só para fazer um contraponto à publicada logo acima, que traz notícias com visões consideravelmente diferentes por parte de outro jornal francês (e que repercutem em várias mídias brasileiras). O objetivo é que o leitor possa ter uma visão mais ampla do que é publicado a respeito do F-X2 na França, nesse momento em que os eleitores franceses estão considerando em quem vão votar para presidente. Não faltam indícios de que há boas chances do próximo presidente francês (que poderá ser o próprio Sarkozy) assinar enfim um contrato de venda do Rafale para o Brasil. Mas, até as eleições francesas, algumas notícias da mídia de lá podem estar excessivamente enviesadas para o lado positivo ou negativo dessa expectativa.