F-X2 ou ‘Tampão 2’?
A visita de Jobim aos EAU faz ressurgir um velho fantasma
A visita do Ministro da Defesa Nelson Jobim aos Emirados Árabes Unidos (EAU) trouxe uma série de boas notícias para a indústria aeronáutica brasileira. Conforme anunciado pelo próprio ministro os Emirados estariam interessados não só na aquisição de um lote de aviões de ataque leve Super Tucano, mas também na participação do programa da aeronave de transporte KC-390.
Este seria uma ótima oportunidade para que a indústria aeroespacial brasileira voltasse ao rentável mercado de defesa do Golfo Pérsico, um dos mais importantes do globo. Desde o final da década de 1980, os produtos da indústria de defesa do Brasil deixaram de marcar presença na região, e tal empreitada representaria um retorno depois de 20 anos.
Mas a euforia inicial começou a perder impacto e ser substituída por uma enorme apreensão geral. Como sempre, existem contrapartidas neste mercado de defesa e dificilmente os EAU comprariam aeronaves do Brasil sem exercer esta opção. Uma das hipóteses levantadas para esta negociação seria a venda de caças Mirage 2000-9 para equipar a Força Aérea Brasileira (FAB).
Como é de conhecimento geral, os EAU pretendem substituir seus Mirage-2000-9 por caças mais modernos e um dos concorrentes é o Rafale, também da Dassault. Existe a possibilidade da França receber de volta os Mirage, e repassar estas mesmas aeronaves para um outro país.
F-X2 em perigo
A conclusão do programa F-X2, que visa dotar a FAB de um novo vetor de caça, depende apenas da decisão política, uma vez que todo o processo de avaliação dos concorrentes já foi feito pelo Comando da Aeronáutica (CA). No entanto, esta etapa final do F-X2 vem se arrastando desde o começo do ano, quando o relatório do CA foi entregue ao Ministério da Defesa.
Até o momento nenhuma decisão foi tomada e, com isso, perdeu-se um tempo precioso. É sabido que os atuais vetores de caça da FAB necessitam de um substituto pois nenhum caça, por melhor que seja, pode existir para sempre. O problema é que, com a demora, o fantasma do “caça tampão” volta rondar as bases brasileiras.
Previa-se a entrada do próximo caça (escolhido pelo processo F-X2) em 2014, mesma época em que os Mirage 2000 (F-2000) deixariam o serviço ativo no 1º GDA (Grupo de Defesa Aérea). Muito dificilmente estas aeronaves continuarão voando de maneira realmente efetiva além do tempo programado. Deve-se lembrar que estes caças vieram para a FAB para “tapar uma lacuna”, deixada com a desativação dos Mirage III (F-103), e nenhum processo de modernização dos mesmos foi pensado.
‘Tampão 2’?
Pelo exposto acima, a possibilidade de existir mais um caça tampão parece bastante razoável e a ideia não é nova. A novidade está exatamente na possibilidade do Brasil adquirir caças Mirage 2000-9 usados provenientes da Força Aérea dos EAU como parte de um possível acordo de defesa entre os dois países.
O Mirage 2000-9 é uma das versões mais modernas da família Mirage, incorporando também soluções adotadas para o Dassault Rafale, da geração de caças posterior. O “traço nove” é superior até mesmo aos Mirage 2000 em uso pela Força Aérea Francesa (Armée de l’air). Ao todo, os EAU possuem perto de 60 caças no padrão “traço nove”, sendo que parte deles pertenciam a um lote anterior e foram modernizados. O lote mais recente começou a ser recebido em 2003.
Em parte, a configuração desses aviões pouco difere da proposta apresentada pelo consórcio Embraer/Dassault para o finado programa F-X. O grande temor está exatamente aí. Pelas quantidades existentes deste caça nos EAU (cerca de sessenta) e pela pouca idade destas aeronaves (metade deles possui menos de dez anos) é possível que o “tampão 2” torne-se o caça padrão da FAB por muitos anos, extinguindo completamente o programa F-X2.
Se esta hipótese se concretizar, todo o projeto de se possuir uma aeronave moderna e no estad0-da-arte, com participação da indústria nacional e de acordo com as necessidades brasileiras irá por água abaixo. O próximo “tampão”, poderá não ser somente um tampão, mas o futuro caça da FAB pelas próximas duas ou três décadas.
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